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Maternidade

Eu não tenho uma história muito convencional com a maternidade.

Não me lembro de sonhar em ser mãe. Eu sonhava em ser alguém de sucesso. Sonhava em ser professora, jornalista, médica. Sonhava em casar. Até sonhei em ter dois filhos - mas só pra cumprir um papel relacionado à sociedade em que eu vivia. Mas sonhar em ser mãe, cuidar de um bebê, educar uma criança - não. Eu nunca sonhei com isso. Nunca mesmo. Não fazia parte dos meus planos.

Então imagine a minha surpresa quando me descobri grávida!

Já ouvi de algumas pessoas : engravidou porque quis!

É óbvio que quem diz isso nunca engravidou sem querer.

Quando a gente engravida sem querer, é sem querer mesmo!

É um descuido! Não é consciente!

Sim! A gente sabe que podia ter tomado o anticoncepcional, que podia ter colocado um DIU ou usado camisinha - mas posso te contar uma coisa? Até esses métodos falham!!!! Não existe um método que seja cem por cento confiável.

Independente disso, o fato é que é um susto. Um susto muito grande. Tem uma parte de desespero misturada com alegria e medo. E até um pouco de raiva ou culpa por não ter tomado os cuidados necessários.

Consegue sentir isso?

Consegue imaginar essa sensação?

Depois de ter um teste de gravidez positivo, sua vida nunca mais vai ser a mesma.

São nove meses de mudanças no corpo, de expectativas, de frustrações, de ansiedade e de muitas alterações hormonais.

Coisa que homem nenhum jamais vai saber o que é. Sinto muito estar sendo tão honesta assim. Talvez isso lhes doa - mas essa é a verdade. O nascimento de um ser humano ainda depende totalmente de um útero. Ainda depende do corpo de uma mulher. Ainda depende da permissão dela, por mais que muitos ainda queiram discordar de algo que seja tão óbvio assim.

Eu queria te dizer que tudo sempre dá certo. Mas não posso, porque seria uma mentira. Ainda assim, nunca deixará de ser uma aventura. Sempre será necessária uma coragem absurda. Coragem de abrir mão do seu corpo, que será profundamente modificado. Coragem de abrir espaço em sua vida, espaço esse que será preenchido por algo desconhecido.

É como jogar na Mega-Sena - você nunca sabe o resultado. Você nunca sabe se vai sair o seu número. Também é como andar de montanha russa - você sente frio na barriga, tem vontade de gritar (e às vezes, grita), tem vontade de chorar - de alegria e de felicidade. E se for bom (ou não), tem até vontade de andar de novo.

Apesar de tudo isso e por tudo isso, venho aqui pra te dizer : escolher maternar é um ato de amor. É tornar-se responsável pelo outro. É suprir as necessidades fisiológicas e afetivas de alguém que saiu de dentro de você. Alguém tão parecido com você, que possui metade do seu DNA. E que mesmo assim, será muito diferente de você.

É uma responsabilidade muito grande. E não é pra qualquer um.

No meu caso, depois do susto, houve a escolha. Uma escolha que levou três meses para ser elaborada e aceita. No entanto, uma vez aceita, minha decisão seguiu minha filosofia de vida: se for pra fazer algo, faça bem feito. E fazer bem feito não é fazer perfeito. É fazer do seu jeito, com o seu coração de mãos dadas com a razão. Eu até estudei para conseguir maternar. Mesmo assim, já errei muito. Mas acertei muito mais.

Porque, no fim, maternar é um eterno aprendizado...

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